Há alguns dias a Beth postou um texto muito bonito e quero dividir com vocês.
A ADOÇÃO NÃO É UMA IMITAÇÃO DA BIOLOGIA.
Desde os romanos, passando pelo Código de Napoleão que influenciou os sistemas legais de diferentes países, afirmava-se que a adoção de uma criança deveria “imitar a natureza”.
Não acho adequado encarar a adoção dessa maneira e não gosto do termo “família substituta” para a família que constitui-se pela adoção. Entendo que, muitas vezes, as famílias que adotam querem imergir nos conceitos da biologia como se ela fosse a verdade mais forte da filiação.
Assim, falam que o filho foi criado no coração e não no ventre e sentem-se mais seguros quando existe algum traço de parecença física com o seu filho.
Mas o ser humano é essencialmente um ser de linguagem e, com isso, um ser com capacidade de produzir um universo simbólico que é parte inerente de sua existência.
A nossa consciência nos distingue de outras espécies e mesmo que ela tenha sido talhada pela herança filogenética, ela transcende o biológico pois depende da cultura, convivência, socialização, interpretação de símbolos, representação de eventos e da habilidade em situar o presente com base em experiências passadas.
Sabemos que nem sempre uma mulher que deu à luz uma criança é mãe.
Essa precisa ser construída na própria relação de filiação.
Sabemos que precisamos acolher, cuidar e adotar nosso filhos tenham eles chegado pela biologia ou pela adoção, então porque fazer um esforço tão grande para comparar a adoção com a biologia?
Em outras culturas pelo mundo (por exemplo Havaí, Polinésia Francesa...) o parentesco nem mesmo é considerado por laços de sangue, mas por laços culturais: adoção não "substitui a família de sangue e nem o filho nasce no coração; a adoção é simplesmente outro modo de filiação.
A capacidade humana de interagir com símbolos dispensa as similaridades físicas.
A adoção é muito mais ampla.
Ela é cumplicidade, compromisso, desejo, aceitação incondicional, inclusão do diferente, do especial e do mais velho, amor ao outro que não é nosso espelho, é da libertação das amarras do sangue e do amor construído como deve ser todo amor.
Ah... se a filiação biológica pudesse imitar a adoção.... (Lidia Weber)
Harumi Kawakubo