Bem... como eu iniciei esse tema há... bem... 2 anos... achei que seria mais que viável deixar aqui o link para o começo do tema, para quem quiser relembrar:
Agora vamos
seguir...
Bem... se
preparem para um post gigante... ^-^
No último
post sobre o processo de adoção eu falei que havia participado do curso
obrigatório de preparação, e que para o próximo passo precisava esperar...
Aí se
pergunta... porque esperar tanto em todas as fases... e a resposta é simples...
estamos lidando com vidas e não brinquedos, então tudo deve ser feito com o
maior cuidado possível... e segundo... não existe uma fábrica de bebês, que
você programa o perfil do pretendente, aperta um botão e sai um “bebê
fresquinho”.
Então... se
espera muito... sim... mas é necessário... sempre se espera demais? Não... nem
sempre... seu tempo é feito basicamente por dois itens: sua comarca e seu
perfil...
Bem...
voltando ao quarto passo... o início das entrevistas.
Teoricamente
deveria ser a parte mais simples e tranquilo de todo o processo... para a
maioria é... mas para mim... foi um caus.
Durante o
período(e algum tempo depois dele), pensar em tudo era muito ruim... trazia uma
sensação realmente desagradável... mas hoje... não sei explicar exatamente a
sensação... mas com certeza não me faz mais mal...
Mas vou
começar pelo começo.
Recebi a tão
esperada ligação agendando a primeira entrevista no fórum. Deixaram bem claro
que deveriam ir todos os moradores da casa: eu, minha irmã, meu pai e minha
mãe. Aí apareceu um probleminha... o Yagami era pequeno, não ficava sozinho em
casa. Nunca deixávamos ele sozinho, sempre que precisava sair, alguém ficava em
casa. Aí demos um jeitinho. Eu fui com minha mãe e minha irmã, inventamos uma
história e foi marcado para meu pai ir outro dia.
Parecia
estar indo tudo relativamente bem, na primeira entrevista. Acho que estava tão
empolgada que não percebi nada... só fui sincera 100% e respondia tudo o que
era perguntado.
Quando o meu
pai foi(dois dias depois) eu fui junto(logico), e também pareceu tudo
tranquilo... mas notei umas perguntas mais ‘secas’, mas... quem não tem um dia
ruim.
O que chamou
atenção é que só a psicóloga fez entrevista, quando fui com meu pai. Quando fui
com minha irmã e minha mãe, a assistente social estava... mas fez tudo muito
rápido, pois estava ‘ocupada’. Com meu pai ela nem estava, pois ‘estava
ocupada’ novamente...
Foram
marcadas outras entrevistas... acho que mais umas 3... ou 4... só comigo... e
em todas as vezes a assistente social estava ocupada... uma única vez ela
estava quando cheguei, ela nem cumprimentou, disse que estava atrasada e me
deixou falando sozinha...
Bem... não
vou dizer que lembro 100% do que ocorreu em todas as entrevistas... mas lembro
da sensação... de ser um ‘nada’ gigante. O olhar de pouco caso em todas as
vezes e durante toda a conversa... agora pensando... acho que na primeira
entrevista estava realmente enfeitiçada pela ansiedade, pois não lembrava desse
olhar, mas lembro perfeitamente dele nas outras entrevistas. Lembro de todas as
vezes, após as entrevistas, rezar muito para minha impressão ser errada...
Como disse,
não lembro o que foi dito exatamente em cada entrevista, mas lembro de coisas
numa forma geral... as coisas que eram ditas pela psicóloga. Ela questionou por
eu não ter um namorado, por eu ter tido poucos namorados “sérios”(2)...
questionou coisas extremamente íntimas do tipo, quantas vezes eu tinha relações
sexuais com meus namorados e como era...(quase perguntei se ela era sexóloga ao
invés de psicóloga) se eu tinha relações fora dos relacionamentos... sempre
criticando eu não ter ‘alguém’(mesmo que fosse uma mulher, como ela mesma
disse, “pois não era preconceituosa”).
Também
questionava muito o porquê de eu estar adotando, se não havia nenhum motivo
clinico que impedisse de gerar uma criança. Que o ‘normal’ era tentar-se inúmeras vezes gerar um filho
para só então optar pela adoção... e aqueles tipos de comentários que escuta-se
de pessoas desinformadas/maldosas... o problema é que foi dito por uma
psicóloga da área.
Quando ela
questionou que tipo de imagem masculina eu poderia passar para a criança, pois
estaria adotando sozinha(e mais uma vez ela soltou um “se estivesse com alguém,
pois nesse ‘tipo de relacionamento’ um sempre assume a imagem masculina), eu
disse que meu pai seria a melhor referencias possível... sempre foi uma
referência perfeita para mim, e porque não seria para meu filho(a)? Aí ela
soltou um “avós não servem para nada. Só para dar doces antes da refeição e
levar para passear. Fora isso, não servem para nada”.
Juro que
quase morri quando ouvi isso. Quantas crianças não foram criadas pelos seus
avós e se tornaram pessoas honestas? Interessantemente, na mesma semana, no
Globo Repórter, teve uma matéria sobre os Avós Pais, avós que criavam seus
netos(todos com pais vivos e que por N motivos não podiam criar sozinhos seus
filhos). Lógico que nessa altura eu já sabia que algo muito errado estava
acontecendo, só não sabia exatamente o que era.
Lembro que
numa das últimas vezes que ela falou isso, de que adoção só era escolhido
quando as ‘vias normais’ não funcionavam, eu perguntei porque a adoção deveria
ser vista como o último desejo de um moribundo. Porque só recorrer a adoção
quando mais nada desse certo, como se a adoção fosse um “só sobrou isso”.
Porque não optar pela adoção de primeira, e se for para ser, ter um filho
biológico? Também lembro que, assim como todas as outras vezes, ela terminou
com um “por hoje chega, vamos marcar outra entrevista”, com uma cara ainda mais
fechada e sem ‘tchau’ de despedida...
Dentro desse período de entrevistas foi feita a visita na minha casa, e aí sim eu vi a assistente social, por poucos minutos... porque, como sempre, ela estava ocupada. E a visita, se podemos chamar uma ‘olhada’ de menos de 5 minutos de visita. Ela viu os quartos do meio do corredor, e a cozinha e a área de serviço do meio da sala. Fez comentários aleatórios sobre a localização do prédio, perguntou quanto eu gastava por mês com o Yagami, e foi embora.
Harumi Kawakubo