terça-feira, 6 de agosto de 2024

Quarto Passo – Não começando nada bem...

Bem... como eu iniciei esse tema há... bem... 2 anos... achei que seria mais que viável deixar aqui o link para o começo do tema, para quem quiser relembrar:

-> O Primeiro passo

-> Segundo Passo...

-> Terceiro Passo


Agora vamos seguir...


Bem... se preparem para um post gigante... ^-^

No último post sobre o processo de adoção eu falei que havia participado do curso obrigatório de preparação, e que para o próximo passo precisava esperar...

 

Aí se pergunta... porque esperar tanto em todas as fases... e a resposta é simples... estamos lidando com vidas e não brinquedos, então tudo deve ser feito com o maior cuidado possível... e segundo... não existe uma fábrica de bebês, que você programa o perfil do pretendente, aperta um botão e sai um “bebê fresquinho”.

Então... se espera muito... sim... mas é necessário... sempre se espera demais? Não... nem sempre... seu tempo é feito basicamente por dois itens: sua comarca e seu perfil...

 

Bem... voltando ao quarto passo... o início das entrevistas.

Teoricamente deveria ser a parte mais simples e tranquilo de todo o processo... para a maioria é... mas para mim... foi um caus.

Durante o período(e algum tempo depois dele), pensar em tudo era muito ruim... trazia uma sensação realmente desagradável... mas hoje... não sei explicar exatamente a sensação... mas com certeza não me faz mais mal...

 

Mas vou começar pelo começo.

Recebi a tão esperada ligação agendando a primeira entrevista no fórum. Deixaram bem claro que deveriam ir todos os moradores da casa: eu, minha irmã, meu pai e minha mãe. Aí apareceu um probleminha... o Yagami era pequeno, não ficava sozinho em casa. Nunca deixávamos ele sozinho, sempre que precisava sair, alguém ficava em casa. Aí demos um jeitinho. Eu fui com minha mãe e minha irmã, inventamos uma história e foi marcado para meu pai ir outro dia.

Parecia estar indo tudo relativamente bem, na primeira entrevista. Acho que estava tão empolgada que não percebi nada... só fui sincera 100% e respondia tudo o que era perguntado.

Quando o meu pai foi(dois dias depois) eu fui junto(logico), e também pareceu tudo tranquilo... mas notei umas perguntas mais ‘secas’, mas... quem não tem um dia ruim.

O que chamou atenção é que só a psicóloga fez entrevista, quando fui com meu pai. Quando fui com minha irmã e minha mãe, a assistente social estava... mas fez tudo muito rápido, pois estava ‘ocupada’. Com meu pai ela nem estava, pois ‘estava ocupada’ novamente...

Foram marcadas outras entrevistas... acho que mais umas 3... ou 4... só comigo... e em todas as vezes a assistente social estava ocupada... uma única vez ela estava quando cheguei, ela nem cumprimentou, disse que estava atrasada e me deixou falando sozinha...

Bem... não vou dizer que lembro 100% do que ocorreu em todas as entrevistas... mas lembro da sensação... de ser um ‘nada’ gigante. O olhar de pouco caso em todas as vezes e durante toda a conversa... agora pensando... acho que na primeira entrevista estava realmente enfeitiçada pela ansiedade, pois não lembrava desse olhar, mas lembro perfeitamente dele nas outras entrevistas. Lembro de todas as vezes, após as entrevistas, rezar muito para minha impressão ser errada...

Como disse, não lembro o que foi dito exatamente em cada entrevista, mas lembro de coisas numa forma geral... as coisas que eram ditas pela psicóloga. Ela questionou por eu não ter um namorado, por eu ter tido poucos namorados “sérios”(2)... questionou coisas extremamente íntimas do tipo, quantas vezes eu tinha relações sexuais com meus namorados e como era...(quase perguntei se ela era sexóloga ao invés de psicóloga) se eu tinha relações fora dos relacionamentos... sempre criticando eu não ter ‘alguém’(mesmo que fosse uma mulher, como ela mesma disse, “pois não era preconceituosa”).

Também questionava muito o porquê de eu estar adotando, se não havia nenhum motivo clinico que impedisse de gerar uma criança. Que o ‘normal’  era tentar-se inúmeras vezes gerar um filho para só então optar pela adoção... e aqueles tipos de comentários que escuta-se de pessoas desinformadas/maldosas... o problema é que foi dito por uma psicóloga da área.

Quando ela questionou que tipo de imagem masculina eu poderia passar para a criança, pois estaria adotando sozinha(e mais uma vez ela soltou um “se estivesse com alguém, pois nesse ‘tipo de relacionamento’ um sempre assume a imagem masculina), eu disse que meu pai seria a melhor referencias possível... sempre foi uma referência perfeita para mim, e porque não seria para meu filho(a)? Aí ela soltou um “avós não servem para nada. Só para dar doces antes da refeição e levar para passear. Fora isso, não servem para nada”.

Juro que quase morri quando ouvi isso. Quantas crianças não foram criadas pelos seus avós e se tornaram pessoas honestas? Interessantemente, na mesma semana, no Globo Repórter, teve uma matéria sobre os Avós Pais, avós que criavam seus netos(todos com pais vivos e que por N motivos não podiam criar sozinhos seus filhos). Lógico que nessa altura eu já sabia que algo muito errado estava acontecendo, só não sabia exatamente o que era.

Lembro que numa das últimas vezes que ela falou isso, de que adoção só era escolhido quando as ‘vias normais’ não funcionavam, eu perguntei porque a adoção deveria ser vista como o último desejo de um moribundo. Porque só recorrer a adoção quando mais nada desse certo, como se a adoção fosse um “só sobrou isso”. Porque não optar pela adoção de primeira, e se for para ser, ter um filho biológico? Também lembro que, assim como todas as outras vezes, ela terminou com um “por hoje chega, vamos marcar outra entrevista”, com uma cara ainda mais fechada e sem ‘tchau’  de despedida...

Dentro desse período de entrevistas foi feita a visita na minha casa, e aí sim eu vi a assistente social, por poucos minutos... porque, como sempre, ela estava ocupada. E a visita, se podemos chamar uma ‘olhada’ de menos de 5 minutos de visita. Ela viu os quartos do meio do corredor, e a cozinha e a área de serviço do meio da sala. Fez comentários aleatórios sobre a localização do prédio, perguntou quanto eu gastava por mês com o Yagami, e foi embora.

Harumi Kawakubo