Foi aí que chegou a última entrevista. Óbvio que eu não sabia que era a última. Eu cheguei como das outras vezes... rezando para dar tudo certo... a entrevista foi marcada pouco antes da hora do almoço. Então eu saí super cedo de casa para a entrevista, iria comprar algo assim que a entrevista terminasse e depois correria para o trabalho, na época eu era multiplicadora, dava treinamento para novos funcionários.
Quando
cheguei a psicóloga me chamou para a sala, com cara de poucos amigos misturada
com sorriso sarcástico. Mal entrei e ela disse para eu sentar e ficar calada,
pois eu já tinha falado o suficiente nas últimas entrevistas e que nessa eu
iria ficar de boca fechada só escutando o que ela iria falar... bem desse
jeito. Com todo ‘jeitinho’ que só alguém com simpatia aflorada poderia dizer.
Aí ela
desatou a falar um monte de coisas do tipo: você é infantil, imatura,
irresponsável... não tem noção do que significa ser mãe, já que não tem
experiência nenhuma com a maternagem(palavra que, por sinal, ela gostava muito
de falar) e a listagem de elogios seguiu-se... e eu fiquei só ouvindo... não só
por ela ter dito para eu ficar calada... mas eu estava tão... sei lá... acho
que assustada com o que ela falava... que não conseguia dizer nada. Eu não sei
dizer quanto tempo de passou, mas o tempo todo era de ‘elogios’ a minha pessoa,
focando sempre o quanto eu era irresponsável para ser mãe. Terminou dizendo que
eu deveria me preparar mais, me entregou umas folhas com algumas informações
sobre o processo de adoção, sugestões de livros e filmes sobre adoção... e
antes de sair ‘recomendou’ que eu
frequentasse um grupo de adoção... disse para ir até a outra sala pois a
assistente social iria falar comigo e já estava me esperando.
Logo que eu
entrei ela disse quem eu nem precisava sentar, pois ela seria rápida, pois
estava muito ocupada. Disse que concordava com tudo o que a psicóloga havia
dito(fiquei pensando como ela sabia o que ela havia dito... teriam combinado
cada palavra, ou ela teria ficado atrás da porta ouvindo???)... e falou algo
que me lembro perfeitamente: “você, visivelmente, nunca passou por nenhuma
dificuldade na vida. É obvio que nunca passou por nenhum problema e nunca saberá
lidar com os problemas que uma criança adotada terá, já que todos são
problemáticos.”
Disse que
elas iriam pensar em indicar uma reavaliação em aproximadamente 1 ano ou mais,
mas que agora eu era incapaz de adotar. Que eu deveria aguardar que me
avisariam quando o juiz decidisse, mas que não precisava ter esperanças, pois
ele seguia o que elas colocassem no relatório.
Bem... como
descrever o que ocorreu depois...
Sai de lá em
silêncio... passei numa lanchonete e comprei uma esfiha de frango e fui para o
trabalho.
Cheguei e
pedi um minuto sozinha no laboratório(era o lugar onde o treinamento era dado).
Tentando assimilar tudo... controlando a vontade de me atirar na frente de um
caminhão e tentando entender o que eu havia feito de errado para aquelas
mulheres... engolindo forçado a esfiha que não tinha gosto de nada...
Eu não
queria contar para os meus pais ou para minha irmã naquele momento, só liguei
para avisar que estava no serviço e que falava com eles depois... mas precisava
falar com alguém sobre o ocorrido... então mandei um e-mail para Beth... é,
porque falar era no sentido figurado... eu não conseguiria abrir a boca para
falar do assunto... e se tentasse falar com ela por telefone, com certeza iria
me derreter em lágrimas...
Escrevi um
e-mail com tudo o que havia ocorrido no dia, e um pouco dos outros dias
também...
Depois
respirei fundo, organizei minhas coisas e abri a porta... tinham 28 pessoas
aguardando o início do treinamento, que sempre começaram na hora certa e não
seria naquele dia que seria diferente.
O retorno
que eu tive da Beth é que ela falaria com a Sandra, e que pediria ajuda para
resolver esse problema.
Mas a ajuda
não saiu muito como o esperado. A Sandra falou com a psicóloga, e disse que ela
teria que resolver isso... como dizer o que ocorreu depois...
Sábado de
manhã, estou linda e sorridente penteando o Yagami, como fazia todos os dias,
eis que recebo uma ligação. Resumindo a ligação... era a psicóloga, furiosa...
falou que provavelmente eu tinha ficado com alguma dúvida e que eu deveria
questionar ela, falei calmamente que não tinha ficado com dúvida nenhuma, aí
ela ficou mais irritada. Disse que eu não tinha nada que ter ido reclamar para
a Beth nem para a Sandra, que se eu tivesse alguma dúvida, deveria falar com
ela, que ela tinha o destino da minha vida nas mãos dela, e que era apenas com
ela que eu deveria falar e não reclamar com a Beth, Sandra ou mesmo o juiz...
Perguntei se
ela tinha mais algo a falar e desliguei o telefone.
Acho que passou
um bom tempo, e como não tive mais nenhum retorno, fui até o fórum para ver a
quantas andava o processo, e não tive surpresa saber que elas tinham feito um
relatório completamente negativo. Mesmo assim, fiquei muito chateada... queria
chorar muito, mas estava com minha Mãe e minha Irmã, elas não mereciam isso...
sempre estiveram ao meu lado, e novamente estavam sendo minha força.
Não vou
dizer o que estava escrito no relatório, mas posso dizer que eu mesma, se
tivesse que escolher, nunca daria uma criança para uma pessoa completamente
louca, como elas haviam me descrito no relatório. Um relatório super estranho,
falando coisas que não foram ditas.
Um rapaz
muito gentil do fórum me disse que eu poderia acionar um advogado e pedir uma
nova avaliação com técnicos diferentes, perguntei se era obrigatório ser por um
advogado. Ele disse que não, disse que eu poderia escrever com calma e entregar
depois, na hora disse que não queria esperar, tinha que fazer aquilo na hora,
com a cabeça bem quente para não esquecer nenhum detalhe... então ele me deu uma
folha e disse para que eu escrevesse a carta. E foi o que eu fiz... escrevi um
texto gigante, com todos os detalhes do meu descontentamento, e e deixando bem
claro que queria uma nova avaliação com técnicos diferentes, pois esses era
desqualificados.